Vive no Rio desde que nasceu, em 1968.
Obra exclusiva para o Clube Hall:
Título: “Sabão”, 2014
Técnica: Pedra Calcita
Dimensões: 15 cm
TEXTO Sobre a obra para o Clube Hall :
José,
Tenho aqui um sabonete único, de 15 cm, bem maior que a palma da minha mão. Mais pesado, mesmo que pareça ter a capacidade de flutuar, é um tesouro que guardo comigo, em oração.
Sozinha, medito sobre as características desse sabonete que se chama “Sabão”. Se fosse outro, gastaria, escorregaria, teria perfume, faria muita ou pouca espuma. Este não. Faz mais. Dá a possibilidade de bolhas imaginárias para limpar o que está sujo em todo lugar.
Gelado, penso também sobre o material: pedra, pedra sabão, pedra semi-preciosa que não é sabão, por fim, eis aqui o meu mais perfeito Sabão. Apesar do toque frio, ele me acalma dizendo que atravessará gerações com seu segredo.
Onde poderia guardá-lo, se já o carrego o tempo todo comigo mesmo antes de vê-lo pela primeira vez? Será que deixarei descansar no móvel da sala, no lavabo social para surpreender quem ousar decifrá-lo, na sala, em um baú enterrado? Procuro encontrar o espaço ideal, um espaço que cruze com este meu tempo de hoje, mas que atravesse todas as dimensões. Lembro de sua obra: “hoje, aujourd’hui, today, ontem, hier, yesterday, amanhã, tomorrow, demain”. Sinto que todos os pontos se cruzam no agora.
Sejam sabonetes em calcita, cogumelos em obsidiana, moléculas negras espelhadas, pequenos elefantes pendurados em árvores, grandes pães de forma, solilóquios que revelam aprisionamentos, ondas sonoras marteladas nas paredes, muralhas parabólicas, conexões humanoides de compassos, capachos, pegadas, cafezinhos, você sempre abre uma nova camada de interpretação para aquilo que eu já dava por entendido.
Acho que por hoje é isso. Preciso ir. Espero receber outras cartas voando pela janela dentro de bolhas de sabão.
Um beijo,
Patrícia (Arte Hall Rio de Janeiro)
Biografia:
José Damasceno cruza regularmente o oceano para fazer exposições na Inglaterra, França, Espanha e Estados Unidos, mas seu porto de repouso e criação é no Rio, cidade onde mora desde que nasceu. Vive no Leme, perto de onde nasce o sol, e trabalha em seu ateliê, um oásis escondido no agito de Copacabana.
O artista já tem seis bienais no currículo e mais de 70 exposições entre individuais e coletivas. A editora inglesa Ridinghouse lança, em maio deste ano, um livro cobrindo os 25 anos de sua trajetória.
Seus trabalhos estão em coleções particulares no mundo inteiro, além de hoje também disponíveis em museus e instituições como por exemplo MOMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), Inhotim, passando pelo MAM/SP e MAM/RJ.