Texto do Curador do Clube Hall 9a. Edição – Anos 60
“O lançamento, na Art Rio 2015, de três obras múltiplas de Antonio Dias, Anna Bella Geiger e Ivan Cardoso, marca a chegada do Projeto Novos Colecionadores à capital fluminense. Iniciativa da Arte Hall , o Projeto tem por objetivo estimular e ampliar o colecionismo com base: 1) na qualidade dos artistas e obras que o integram, 2) na seleção criteriosa dos artistas que o compõem (escolhidos em função do momento histórico em que suas obras floresceram [décadas de 60 e 70] à época de emergência do múltiplo como alternativa possível à obra única), 3)nas condições de aquisição bastante favoráveis em que chegam ao público.
Dentre as primeiras obras múltiplas assumidas pela modernidade figuram a gravura e a fotografia. Foi somente na década de 1960/70, no entanto, que o conceito, o sentido e o valor do múltiplo impuseram-se internacionalmente − período em que tais obras foram assimiladas pela ideologia do mercado e passaram a ser designadas como objetos – categoria que praticamente ignorava o fato de múltiplos serem meios alternativos de produzir novas enunciações poéticas, decorrentes da experimentação de novas mídias e suportes.
Ao longo de 50 anos, tal divisão (que restringia a noção de múltiplo à de objeto) transbordou de seu âmbito inicial e transformou-se ao ponto de atualmente abranger toda obra produzida por mídias voltadas para a reprodutibilidade técnica (como, por exemplo, gravura, fotografia, vídeo e objetos, entre outros).
Múltiplos não podem, portanto, ser reduzidos a meras reproduções, já que ao diferirem da obra única (graças a possibilidades poéticas fundadas na reprodutibilidade) ampliam o campo de invenção e criação do artista para além da produção de “originais”. Consequentemente Múltiplos não são apenas produtos de uma atividade menor, secundária ou derivada da produção artística manual.
Nesse sentido o Projeto Novos Colecionadores, agora lançado, foi concebido com base na coerência que deve presidir acervos de qualidade. O objetivo mais importante do colecionismo é o de formar conjuntos criteriosos que potencializem os trabalhos (partes) que o integram – opondo-se, portanto, à mera soma aleatória de peças que não configuram um todo inteligível (temático, histórico, formal, ou midiático). Por conseguinte àqueles que o seguirem poderão formar coleções de obras múltiplas feitas por alguns dos melhores artistas brasileiros das cinco últimas décadas”.
Fernando Cocchiarale