Abaixo imagem das obras expostas na galeria
A individual da artista Cecília Walton será uma retrospectiva com esculturas e pinturas datadas de 1981 a 2017 e selecionadas criteriosamente pelo curador e crítico de arte Paulo Gallina. Segundo o curador, na mais recente produção da artista, entendemos a importância da pintura na construção do olhar contemporâneo. Tratando a imagem como um registro abstrato a ser construído pelo observador, Cecília passou a operar com suas obras com insinuações que remontam a história da arte brasileira.
Da série dos pigmentos, as obras nos convidam a olhar além do quadro ou então, mais profundamente dentro dele. E muito do seu trabalho fala essencialmente sobre memória. Não aquela coletiva, imagética, mas de uma memória pessoal, íntima, construída. Sua produção estabelece uma ausência formal para ativar diálogos cognitivos profundos entre a consciência da obra e a obra de arte conceitualmente constituída.
A artista parte sempre do silêncio e da impossibilidade para discutir a força da arte enquanto experiência e acontecimento real concreto e assim busca investigar a repercussão de tal fenômeno na construção de uma identidade cultural própria.
Em algumas obras a artista apresenta apenas a moldura de telas famosas com seus respectivos nomes – em uma crítica aos visitantes que observam apenas de quem é o quadro, e não a obra em si.
Sobre a Artista:
Cecilia Walton nasceu em São Paulo, cidade onde reside e trabalha. Graduada em Desenho industrial na FAAP, 1983. Participou de acompanhamento de projetos com a orientação de Nino Cais e Carla Chaim no Hermes Artes Visuais. Participou do grupo Ateliê Fidalga de 2004 a 2012, com acompanhamento de projetos coordenado pelos artistas Albano Afonso e Sandra Cinto.
Texto Curador
Paulo Gallina
Na mais recente produção da artista plástica Cecília Walton entendemos a importância da pintura na construção do olhar contemporâneo. Tratando a imagem como um registro abstrato a ser construído pelo observador, Cecília passou a operar com suas obras com insinuações que remontam a história da arte brasileira. Hora, se a formação da identidade nacional presente atravessou a manifestação plástica da Semana de Arte Moderna em São Paulo. A produção da artista paulistana pede ao seu observador que lembre-se daquelas imagens. Com essa atitude simples, ela empodera os sujeitos que projetam toda sorte de vontades e dizeres que nunca são realmente ditos sobre as imagens insinuadas.
As esculturas apresentadas nesta exposição, são centrais na construção desta compreensão. Porque se as pinturas são criadoras de imagens mentais, as esculturas são a materialização deste universo impossível. Qual é a matéria dos sonhos? Certamente é a mesma matéria capaz de construir sobre um pano ou tela a imagem do paraíso ou o inferno. Pigmento e emulsão são a matéria dos sonhos? Não, é o olhar. O olhar que se apropria das manchas de cores, entendendo-as enquanto imagens coerentes e não uma simulação impossível.
Nesta materialização fugidia da escultura Cecília Walton remonta a desconstrução dos mecanismos de compreensão. Pois não se enganem, aqui estamos diante de trabalhos que procuram a comunicação profunda entre os sujeitos e seus mecanismos de aproximação da arte contemporânea. A desconstrução das imagens ganha portanto caráter urgente, assim como foi na década de 10 do século XX. Ou acreditamos realmente ser uma coincidência o Nú descendo a escada de Marcel Duchamp ser datado de 1912? O tempo não é cíclico. Como poderia ser? Mas isso não quer dizer que questões prementes no passado que nos formou, foram completamente resolvidas no presente em que habitamos. Paulo Gallina
Sobre o Curador :
Crítico de arte e curador independente, Paulo Gallina é formado em História pela Universidade de São Paulo (USP). Passou pelo Ateliê OÇO (2010) e Ateliê 397 (2013) como crítico residente e atuou como crítico e curador do Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake (2010-2013). Ministrou cursos de sobre história da arte em instituições culturais como o Insituto Tomie Ohtake (2013) e o Instituto Itaú Cultural (2014). Participou do Grupo de Estudos de Crítica e Curadoria da ECA-USP orientado pelo professor doutor Domingos Tadeu Chiarelli (2009-2012). Nos últimos anos curou as exposições: Nino Cais: Das Bandeiras e dos Viajantes (SESC, São Paulo, 2013); Primeira Leitura (Zipper Galeria, S&a tilde;o Paulo, 2014); O saber da linha (LAB570, São Paulo, 2014/PINTA LONDON, Londres, 2015); Nino Cais: Um toque surreal (SESC, Santo André, 2014), Alguma coisa descartável (Museu de arte de Ribeirão Preto, 2014), Estruturas precárias (Galeria Paralelo, 2015), entre outras. Participou das publicações O MAC essencial II e Os primeiros 10 anos catálogo de exposição realizada no Instituto Tomie Ohtake, na qual também foi um dos curadores.